O mímico francês Marcel Marceau morreu hoje aos 84 anos.
Falava sem palavras, chorava e ria sem sons. Era o mestre da pantomima e uma figura incontornável da arte.
Bip, a sua famosa criação, o mimo de cara branca, com uma expressividade trágica influenciada pelo vagabundo eternizado por Chaplin, deixou marca.
Disse um dia que "a mímica, tal como a música, não conhece fronteiras nem nacionalidades" .
O actor, nascido em Estrasburgo em 22 de Março de 1923, tornou-se um dos artistas franceses mais conhecidos no mundo, em especial nos Estados Unidos onde o seu movimento da "marcha contra o vento" marcou uma revolução na cena teatral, que inspirou por exemplo "Moonwalk", de Michael Jackson.
O seu nome de família original era Mangel, mas Marceu alterou o apelido para escapar durante a Segunda Guerra Mundial à perseguição aos judeus pelos nazis, que em 1944 assassinaram o seu pai, deportado para o campo de concentração de Auschwitz.
No cinema trabalhou com o director Roger Vadim em "Barbarella" (1968) e com Mel Brooks em "A Última Loucura" (1976), duas fitas que ainda contribuíram mais para a sua fama internacional.
Os gestos expressam a essência mais secreta da alma humana - "Para mimar o vento, temos de nos transformar em tempestade. Para mimar um peixe, temos de mergulhar no mar" .
Que descanse em Paz, uma vida que fez toda a diferença e gravada ficará para sempre na memória dos Homens.
José Régio nasceu em Vila do Conde a 17 de Setembro de 1901.
Cântico Negro
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
Colocado por delta
segunda-feira, setembro 17, 2007
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Luciano Pavarotti, que um dia sonhara ser um craque de futebol, transformou-se numa das mais belas vozes que nós, simples mortais, jamais esqueceremos.
«Creio que uma vida na música é uma vida maravilhosamente empregue, por isso dediquei-lhe a minha vida».
- Luciano Pavarotti -
Paz à sua alma!
Una Furtiva Lagrima
L'elisir d'amore
Gaetano Donizetti (1797-1848)
Una furtiva lagrima
Negli occhi suoi spuntò...
quelle festose giovani.
Invidiar sembrò...
Che più cercano io vò?
M'ama si, m'ama, lo vedo, lo vedo
Un solo istante i palpiti
Del suo bel cor sentir!...
I miei sospir confondere
Per poco a' suoi sospir!...
I palpiti, i palpiti sentir!
Confondere i miei con suoi sospir.
Cielo, si può morir,
Di più non chiedo, non chiedo.
Cielo, si può, si può morir;
Di più non chiedo,
Si può morire,
Si può morir d'amor.
terça-feira, setembro 04, 2007
Prelúdio
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
Nem vestidinhos de folhos,
Nem brincadeiras de guisos,
Nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
Em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
Voz de silêncio batendo
Nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
De mansinho, pela estrada.
Que é feito desses meninos
Que gostava de embalar?
Que é feito desses meninos
Que ela ajudou a criar?
Quem ouve agora as histórias
Que costumava contar?
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
Como eu sei tudo
Mãe-Negra
Os teus meninos cresceram,
E esqueceram as histórias
Que costumavas contar.
Muitos partiram p'ra longe,
Quem sabe se hão-de voltar
Só tu ficaste esperando,
Mãos cruzadas no regaço,
Bem quieta bem calada.
É a tua a voz deste vento,
Desta saudade descendo,
De mansinho pela estrada.
Alda Lara
(Prelúdio-1951)
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